Um dia vou parar de sentir dor?

Dor crônica é uma doença crônica como qualquer outra, como diabetes, hipertensão ou asma.

Ou seja, é uma doença que precisa ser tratada durante toda a vida.

Em alguns casos, a dor pode cessar completamente. Mas, o objetivo, ao tratar a dor crônica, não deve ser o de deter a dor completamente, porque há casos em que isso não acontece e o paciente pode se frustar.

E a frustração pode desencadear quadros depressivos que podem agravar ainda mais a sensação de dor.

Em um tratamento de dor crônica realista e respeitoso com o paciente, deve estar claro que o objetivo deve ser viver cada vez com menos dor e mais qualidade de vida.

Sintomas de depressão em pacientes com fibromialgia

Você sabia que depressão e dores crônicas estão intimamente conectadas?

Alguns estudos mostram que pacientes portadores da síndrome fibromiálgica são mais suscetíveis aos pensamentos e sentimentos negativos.

E é claro que esses pensamentos impactam no cotidiano e na qualidade de vida da pessoa, que pode se afastar até mesmo das suas atividades diárias e convívio social.

E isso é um ciclo, pois os sintomas depressivos aumentam os sintomas da fibromialgia que, por sua vez, podem reforçar a depressão.

Segundo o livro “A ciência da dor: sobre fibromialgia e outras síndromes dolorosas”, os sintomas depressivos da fibromialgia podem se manifestar em alguns sintomas, como:

  • Estado de hipervigilância. Ou seja, a pessoa consegue viver sua vida e fazer atividades diárias, mas sente que as pessoas ao redor e os ambientes os quais frequentam dependem ele para funcionar adequadamente.
  • Se sente muito responsável por tudo e todos.
  • Apresenta pouco interesse em momentos de prazer e afeto, como o sexo.
  • Forte tendência à catastrofização.
  • Sensação frequente de angústia.
  • Sentimento de solidão.
  • Desesperança e limitação.
  • Distúrbios do sono.
  • Concentrar suas preocupações em torno de si, de suas dores e de seus problemas.
  • Enxergar-se como incapaz.
  • Não conseguir controlar pensamentos ruins sobre a doença.
  • Sentimento de desamparo e abandono.

Ou seja, os sintomas psicológicos são muito importantes e tratar a depressão faz parte do tratamento da fibromialgia.

Procure um fisiatra para bolar um plano de tratamento completo e um bom psiquiatra para fazer parte desta jornada com vocês.

A história do paciente tem muita força!

Ao contar sua história, o paciente faz um apanhado do que considera importante: onde dói, como dói, os gatilhos que fazem doer…

E muitas vezes não dói só no corpo: existem demandas emocionais que exigem muito do paciente, que pode se ver sobrecarregado emocionalmente.

Para o médico da dor isto é muito valioso, pois dor é sempre multifatorial e a sua história ajuda a compreender onde podemos trabalhar para diminuir os gatilhos de dor. Ser boa médica, para mim, envolve ser uma boa ouvinte.

Em atendimento percebi que não basta explorar só a queixa de dor do paciente em si. Preciso entender todo o contexto, identificar os fatores que podem estar contribuindo para este quadro de dor, para que eu consiga montar o plano de tratamento completo que o paciente merece.

Percebi que a escuta também ajuda no tratamento em si: paciente que se sente escutado, se sente valorizado. E paciente valorizado tende a aderir melhor ao tratamento, pois ele entende que tem direito de priorizar seu tratamento, de atender às suas necessidades e fazer o melhor para si mesmo.

Poi isso, eu gosto quando meus pacientes encontram esse acolhimento no consultório. Que eles se sintam à vontade para compartilhar um pouquinho da carga emocional relacionada à dor.

Abrir o coração e honrar a história do paciente faz parte do atendimento.

“Não me reconheço mais após o AVC”

Maria acordava todo dia às 6h e preparava o seu café com carinho. Se aprontava, passava um batom e ia trabalhar.

No trabalho, ela se sentia valorizada: ali ela podia ser ela mesma.

Até que um domingo que se parecia com todos os outros, ela sentiu o braço formigar e dificuldade de falar.

O marido correu com ela para o hospital: estava sofrendo um AVC.

Maria teve sequelas físicas: ficou com dificuldade de andar e sem autonomia.

Parou de trabalhar para focar na reabilitação.

Maria pensava: “Quem é essa pessoa no espelho? Cadê minha vida? Cadê EU?”

Maria não se reconhece mais.

Além das sequelas físicas, o AVC pode deixar sequelas emocionais no paciente. A sensação de perder a identidade é uma delas!

Como lidar com isso?

  • Comece aceitando todas as emoções que envolvem o AVC. Raiva, medo, tristeza e a sensação de perda de identidade são algumas delas. E você PODE sentir todas elas.
  • Tente entender que a sua realidade mudou, e por mais que seja desafiador, a aceitação é a base para uma reabilitação de sucesso.
  • Busque ter momentos de alegria e de contato com você mesmo. Veja filmes, escute músicas, busque coisas que você já gostava antes do AVC.
  • Tente manter a mente aberta. O AVC é um evento que transforma. Não estranhe se você se perceber com gostos diferentes. Tenha curiosidade em se descobrir nessa nova etapa.
  • Tente focar no momento presente e no processo da reabilitação. Um exercício de cada vez, um passo após o outro. Uma longa caminhada só é possível se for feita passo a passo.
  • Seja gentil com você mesmo e honre sua história. Além disso, procure o apoio da família e amigos.

Como ajudar alguém com fibromialgia

Você conhece as 5 formas de ajudar alguém com fibromialgia?

Se você conhece, provavelmente já se perguntou: “como será que eu posso ajudar?”

Existem maneiras muito eficientes de você não só ajudar a amenizar a dor, como participar ativamente desse processo, levando uma melhor qualidade de vida a essas pessoas.

Vamos descobrir como?

1 – busque informações sobre o que é fibromialgia – como ela é desencadeada, como se desenvolve, quais são seus fatores agravantes e, principalmente, quais são os seus gatilhos.

Porque como já sabemos, os fibromiálgicos sofrem muitos preconceitos, são discriminados pelas recorrentes dores que pessoas comuns como nós, não conseguem entender.

A partir disso, podemos nos inserir no processo de tratamento junto com o paciente. Você quer descobrir como?

2 – Fazer exercícios físicos – que tal chamar seu amigo ou familiar para se exercitar com você?

Um passeio, uma caminhada, uma ida a academia já são suficientes para você mantê-lo incentivado, ao mesmo tempo que ele vai se sentir aliviado pelas dores causadas pela fibromialgia.

E não é isso. Porque os benefícios do exercício físico, os gatilhos da dor crônica podem ser evitados com simples gestos de empatia e solidariedade que você pode oferecer.

3 – Estimular uma alimentação saudável –  você sabia que um dos gatilhos da fibromialgia é a alimentação? A alimentação está diretamente ligada às inflamações musculares e nervosas.

Por isso é importante que o paciente com fibromialgia tenha uma alimentação rica em magnésio, potássio e ômega 3 que aliviam os sintomas da dor.

Chame seu amigo ou familiar para iniciar uma dieta alimentar com você, por exemplo.

Além de incentivá-lo, você estará ajudando a eliminar um dos gatilhos da dor.

Ou quando você estiver com ele evite comer alimentos com glúten, lactose e tantos outros que são inflamatórios.

Esse tipo de atitude pode ser um enorme diferencial para ele e vai contribuir muito para o seu tratamento.

Mas, além disso, você ainda pode ajudar de forma simples: o que você acha de se inserir no cotidiano da pessoa?

4 – Que tal ajudar seu amigo ou familiar nas tarefas domésticas?

Uma forma muito eficiente de ajudar pessoas que sofrem de fibromialgia é sem dúvida sua disponibilidade de tempo oferecendo ajuda simples e direta.

Pode parecer que não é muita coisa, mas se você ajudar nas tarefas do dia a dia, como por exemplo,  limpar a casa,  lavar a louça, passar a roupa, você estará poupando muito a energia dessa pessoa que um simples trabalho doméstico pode significar um esforço imenso, gerando um cansaço enorme que pode desencadear a dor.

Esses pequenos gestos vão contribuir muito para o tratamento do fibromiálgico e, também, para você que começa a aprender a lidar com essa realidade e passa a entender a doença dentro da normalidade.

E de que normalidade é essa que estamos falando?

5 – Não sinta pena do portador de dor crônica – a fibromialgia tem que ser encarada apenas como uma realidade que pode ser contornada.

Sentir pesar só vai contribuir para que essas pessoas se sintam cada vez mais pressionadas, se sintam um estorvo na vida de familiares e amigos, o que pode desencadear uma das principais consequências de quem sofre de dor crônica: a depressão.

Trate com normalidade e mostre que você está disponível para entender e ajudar.

Faça com que seu amigo ou familiar se sinta entendido e acolhido. Que você entende que a sua dor é real e precisa do entendimento das pessoas que estão em volta, assim como você está tendo a partir de agora.

A sua vontade de ajudar já vai ter um significado enorme para essa pessoa. Ela vai se sentir acolhida, amada e sabendo que pode contar com você.

Seja essa pessoa para o paciente de fibromialgia. E aí vamos começar a acolher nossos amigos e parentes que sofrem de dor crônica?